domingo, 18 de julho de 2010

Visão

Não posso dizer que tenho somente um toco de vela amarelado,
Se o tivesse, eu apagaria.
Nem suponho eu a você minha morte amanhã,
Pois de alegria, hoje mesmo eu morreria.
Meu boi não rumina solidão na Espanha,
Mas meu burro xucro come dum capim bem mais amargo.
Minha vida parou
E meu automóvel tá na oficina.

São pedaços corroídos, condoídos em atrito.
E milhares de minúsculos diminutos canutilhos
De saudade e olhares tão supridos, suprimidos
Da fome de verdade que me compõe e que eu adio.

Aos simplistas, aos confusos.
À sanidade e à insensatez,
Eu aclamo que se exaltem,
Que me levem já daqui!

Será falta de amor ou abundancia de ódio?

Eu me levo, me entrego,
Embrulhada pra presente.
E este cheiro tão sereno, tão ausente...
Vem e me deixa por aqui.

sábado, 17 de julho de 2010

Culpa?

Na Historia de todas as estórias
Houve problemas e com eles vieram os solucionadores de problemas.
Que enigma eu hei de dissolucionar?
Vida minha; vácuo meu!
Equacionada pelas dimensões do nada,
Valendo menos que um triste enredo, desses populares.
Qual nada! Deito profundo, sonho enfim.
Tenho pra mim que a realidade na verdade
Já se transpôs no meu subconsciente
Mas na verdade a verdade não há,
Não posso então lhe afirmar o nada.
Tenho pra mim que ela se esconde
Dá uns pulos em volta, depois desaparece.
Ela não me quer...

Então, tenho pra mim, e pra todos agora,
Que o quimérico, a ilusão diária,
É o mais próximo que chego da realidade.
Palavrinha besta!
Ninguém quer saber se é real.
Só quer sentir e sentir!
Não importa de onde venham as sensações.
Se não, por que se drogaria o meu amor
Com a morfina dos teus lábios invisíveis?

Deserção

Pode ser que eu nunca encontre
O que procuro, o que desejo.
Pode ser que o céu vire o inferno
E você, meu anjo protetor.
Eu tenho um sentimento aflorando
Mas só eu sei o que me dói
Ter no pensamento faca de dois gumes
Ter no coração duas ogivas e um lume.
O que dizem minhas mãos corrompidas?
O que atestam os meus olhos ‘insólitos’?
E o que virá após a tempestade de areia parda de minhas visões?
Não aprovam os sábios minha condição sombria
E me sobrou por bagatela ter a compaixão da briosa confraria.
Assim me resigno, me visto do branco que manchei anteontem,
E lavei com as lágrimas confusas desta manhã.
Resolvi te deixar, seguir leve o caminho.
Sem o peso da esperança em vão
Carregada de minhas palavras espúrias e mal resolvidas
Sendo assim, te dedico brevemente uma canção
Que não tardará em teu peito frágil
Uma bela canção de amor...
E antes das seis você acordará
E não haverá mais o meu rastro.

Banal

Passa o vento
Passa o tempo
O momento,
E o alento
Vem no rosto
Quase morto
Bem sem cor
Amarelado
Sem desprezo
Ou cansaço
Sem dor
Nem agonia
Só inerte
Solitário
Só um rosto
De Maria.
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