quarta-feira, 9 de junho de 2010

Carta

Pode ser que nunca mais eu consiga escrevê-la.
Digo, pois, que triste e pobre é o momento que agora sobrevivo.
Que todo ar que respiro me incomoda e a dura espécie de contentamento que por ventura recebo, vem das realizações incompletas do meu ser frágil, soberbo e desatento no saber.
Queria que soubesses do sofrimento mudo e cego que continuo a carregar nas minhas entranhas. Tu, mais do que os outros há de saber que se passo até hoje com este agouro impingido em meu sangue, não poderei me libertar jamais do prazer deste desprazer. E se me permitir com a licença, com a licença poética, confirmo que o perdido continua escondido no fundo de meu ser revés e que para dar vazão aos sentimentos, troco cada lágrima engolida por uma letra escrita. Medirás o tamanho de minha dor? Já nem eu sei o que hoje é dor ou contentamento. Sei sim, que se consagra o meu infortúnio eterno: vagar a esperar o que nunca tive, nos braços que somente sonhei. Deito sobre ti este segredo, selando-o com um pacto de sigilo tumular. Se a vida castiga-me porque amo, não irei revidar. Amarei em silêncio e em pranto. Guardarei meu riso e meu canto, e os meus sonhos derramarei no mar.

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