sábado, 5 de junho de 2010

O aniversário do meu melhor amigo





Meu amigo fez aniversário. Uma festa grande. Muita farra. Ele não me convidou. Sabe que não vou a aniversários. Mas, me olhou, com uns olhos de quem pede parabéns. Desapontei-o. Por que eu lhe daria parabéns? Pos estar um ano mais velho? Por suas células estarem morrendo mais rápido? Por perder mais cabelos agora? Pela, cada vez maior vulnerabilidade a doenças? Por conseguir ficar no sofá assistindo a tv, perdendo um terço de sua vida? Por todos os dias comer a vontade em seu aconchegante lar sabendo que apenas alguns milhares de pessoas gostariam de ter pelo menos uma de suas refeições? Por assistir as eleições e não poder fazer nada pra reverter o nosso singelo quadro político? Por não ter amado com tanta força que se arrepende amargamente todas as noites antes de se deitar?Por ver pessoas destruindo o planeta, pessoas lutando pelo planeta, pessoas se anulando perante o planeta e não saber em qual dessas categorias se encaixa, tendo certeza que está em todas ao mesmo tempo? Por ter brigado com seus pais e hoje fazer a mesma coisa com seus filhos?Por ser um individuo microscópico no universo e ainda achar que pode ser interessante? Por escrever bobagens clichezadas, batidas, chatas, plagiadas, revoluções ultrapassadas, reivindicações já reivindicadas, e o mesmo velho discurso de crise existencial? Por trabalhar, pagar impostos, ter uma família descente e ainda copiar a letra do Raul pra dizer que “eu acho isso tudo muito chato, um saco”? Não! Mas eu lhe desapontei. Devíamos era chorar, lamentar, estrebuchar, exclamar e clamar, nos flagelar e martirizar sobre nossas tumbas por vindouras. E de que adiantaria? Seriamos melhores?Mudaríamos o mundo? Tola juventude, o mundo é imutável! Só nos afogaríamos em mais melancolia e culpa, e raiva e depressão e culpa, e frustração e desalento e culpa do que realmente não temos culpa.

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